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Haiti: proteção e redução de riscos de catástrofes no Caribe

Gerson Brandão*

 

Ser o país mais pobre do hemisfério ocidental, com quase 20% de sua população vivendo abaixo da linha de extrema pobreza de US$ 1,23 por dia (1 em cada 5 pessoas vive com menos de R$ 6,50 por dia!). Um país onde muitas famílias regularmente têm dificuldade para comprar alimentos básicos ou ainda onde os serviços sociais essenciais, como saúde e educação são inacessíveis ou inexistentes, ainda não é o ápice dos problemas no Haiti. Um país de belezas naturais exuberantes, mas onde nem sempre “o vento sopra na boa direção” já que o país é um dos exemplos de como os efeitos negativos das mudanças climáticas pode mesmo cobrar mais de quem tem menos.

No dia 14 de agosto de 2021, um terremoto de magnitude 7,2 na escala Richter atingiu a península meridional do Haiti. O terremoto e a tempestade tropical Grace, que atingiu a mesma região apenas 2 dias depois, no dia 16 de agosto, criaram dificuldades adicionais em uma área já sujeita a desastres naturais, degradando ainda mais uma situação já precária de pobreza com dificuldades particularmente acentuadas para as populações afetadas, após esses desastres, para ter acesso à saúde, educação, moradia digna assim como foram reduzidas as poucas oportunidades de trabalho existentes antes do dia 14 de agosto. Antes do terremoto, 46 por cento da população vivia em insegurança alimentar, e, as estatísticas não fizeram que piorar nas semanas que se passaram!

Mesmo antes do terremoto de 14 de agosto de 2021, os três departamentos/estados da península meridional do país – considerados particularmente vulneráveis ​​a desastres naturais (furacões, inundações, deslizamentos de terra e secas) – já mostravam sinais de vulnerabilidades ambientais e socioeconômicas muito elevadas o que certamente contribuiu para a extensão do dano atual. De um ponto de vista ambiental, e cinco anos após um furacão, de categoria 4 na mesma região, o terremoto e a tempestade do passado mês de agosto apenas confirmam que a península meridional do Haiti é uma unidade territorial que enfrenta crises repetidas de grandes proporções, com danos e consequências muito graves para a população.

No entanto, se os problemas e desafios são conhecidos, o começo da solução também já vem sendo discutido há anos, desde a Conferência de 1992, no Rio de Janeiro. A ação climática requer investimentos financeiros significativos por parte de governos e empresas. E, agora podemos ver com regularidade, o custo da inação climática é muito mais caro. Uma etapa preconizada na Conferência de Paris, em 2015, é que os países industrializados cumpram o compromisso de contribuir com o equivalente a 100 bilhões de dólares americanos, por ano, aos países em desenvolvimento para que estes países, como o Haiti, possam implementar as medidas necessárias de proteção e adaptação ao clima assim como fazer os investimentos adequados para avançar em direção a economias mais verdes, e menos poluentes. O enriquecimento daquelas que hoje são as principais economias do planeta está diretamente atrelado aos combustíveis fósseis, força motriz da Revolução Industrial, no século 19, e de boa parte das tecnologias que vieram a seguir. O progresso e a crescente demanda energética, contudo, desencadearam uma emergência climática que, sem ação imediata, deixará o planeta às margens de uma irreversível catástrofe ambiental.

O COVID-19 não parou a mudança climática e, embora a pandemia tenha produzido uma queda nas emissões de gases que causam o chamado efeito estufa, a queda foi temporária e as emissões pouco-à-pouco, estão voltando ao ponto onde estavam antes da pandemia – voltando a um caminho que poderá levar a aumentos da temperatura global além da meta do Acordo de Paris, de 1.5 °C, e que contribuirá ainda mais para um possível aumento dos desastres como a tempestade Grace.

Dessa forma, o mundo aguarda com atenção que os países ditos desenvolvidos cumpram o compromisso assumido em Paris, em 2015, e financiem às economias que mais precisam de recursos para proteger as pessoas mais vulneráveis às mudanças do clima. Países como o Brasil também tem a responsabilidade de não apenas trabalhar contra o desmatamento e outras formas de redução do efeito estufa assim como o Brasil pode se aliar às outras nações em desenvolvimento, pelo cumprimento dos acordos feitos em Paris. Como já foi exaustivamente discutido, não há mais tempo à perder!

 


 

*Conselheiro Sênior de Recuperação de Desastres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no Haiti.