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COP 26: Evento teve dois brasis; sociedade civil mostra que está atenta e vigilante

Na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), que terminou neste sábado (13), a sociedade brasileira foi um destaque à parte, com participação vívida e ativa, fazendo o devido contraponto às tentativas oficiais de greenwashing.

Entre os principais avanços desta conferência está sem dúvida a maior participação de indígenas, negros e quilombolas, levando suas mensagens e seus pleitos diretamente ao centro dos debates climáticos globais.

A presença da juventude brasileira, com a legitimidade de quem vai enfrentar as consequências do que está sendo decidido agora, também merece destaque.  O envolvimento de governos subnacionais, parlamentares e do setor produtivo surpreendeu positivamente e esperamos que a urgência climática seja de fato incorporada em políticas públicas, planos de governo e de negócios.

Já aos representantes oficiais  brasileiros não é possível creditar o mesmo sucesso. As novas metas verbalizadas, mas não oficializadas junto à UNFCCC, não significam aumento real de ambição, comprometendo ainda mais a confiança no país.

Nem mesmo a adesão aos acordos extra-oficiais de florestas e metano teve grande impacto diante das dúvidas do efetivo cumprimento dessas promessas. Coroando o descrédito do governo brasileiro, os dados de alertas de desmatamento do sistema Deter, do Inpe, publicados no penúltimo dia da conferência (12), mostraram que outubro de 2021 bateu o recorde da série histórica, iniciada em 2016. Os dois Fósseis do Dia – prêmio que as organizações ambientalistas que acompanham as negociações concedem aos países que mais atravancam o progresso – dão a medida do desprestígio internacional do atual governo.

COP26 avança mais lentamente do que precisamos

Importantes resultados, porém com avanços aquém do que precisamos para alcançar a meta de manter a elevação média da temperatura do planeta em 1,5ºC, como recomenda o Acordo de Paris: este é o resumo da 26a. Conferência do Clima da ONU.

O ponto alto foi sem dúvida a participação da sociedade civil, especialmente do sul global, apesar de todas as dificuldades logísticas e relacionadas à COVID.  Foram duas semanas nas quais pessoas do mundo inteiro deixaram claro, nas ruas e nas redes sociais, que querem ver seus governos avançarem na ambição climática e na descarbonização da economia.

A presidência da COP26, que tinha por objetivo reverter o ceticismo em relação aos resultados que poderiam ser obtidos das negociações, teve um pouco mais de sucesso. Um dos avanços conquistados por esta conferência foi a definição de como funcionarão os mercados de carbono, qualificando um dos componentes mais complexos do Acordo de Paris, que poderá apoiar os países na transição para uma economia descarbonizada. Uma das maiores frustrações foi a alteração na plenária final da eliminação da geração de energia de carvão e dos subsídios ao setor de combustíveis fósseis, proposto pela India, ficando somente uma redução gradual. Nesta hora, Alok Sharma – presidente da COP, e vários negociadores choraram, sabendo que a urgência climática não se dobra aos tempos dos processos multilaterais.

Também em relação ao financiamento de US$ 100 bilhões/ano, prometido pelos países desenvolvidos, esta COP não alcançou o desejado pelos países em desenvolvimento, que também encerraram sem equacionar devidamente a transferência de recursos financeiros para que  possam implementar seus planos de mitigação e adaptação.

Mas talvez a maior decepção seja o fato de que os países não entregaram compromissos climáticos suficientes para colocar o mundo na rota de 1,5C.  Esta será uma das principais missões do Egito à frente da COP27 no final de 2022.

Se as negociações oficiais não foram pródigas em resultados positivos, o mesmo não se pode dizer das extra-oficiais. Entre os principais anúncios estão:

Acordo de Florestas: Líderes de mais de 100 países do mundo, representando cerca de 85% das florestas do mundo, prometeram parar o desmatamento até 2030.

Acordo de Metano: Um esquema para cortar 30% das emissões atuais de metano até 2030 foi acordado por mais de 100 países.

Acordo de Carvão: Mais de 40 países – incluindo grandes usuários de carvão, como Polônia, Vietnã e Chile – concordaram em abandonar o carvão.

Anúncio do setor financeiro (GFANZ): cerca de 450 organizações financeiras, que controlam US$ 130 trilhões, concordaram em apoiar a tecnologia “limpa”, como energia renovável, e direcionar o financiamento das indústrias de queima de combustíveis fósseis.

Anúncio de energia solar: Green Grids Initiative, visando construir uma infraestrutura de energia solar interconectada em escala global.

Iniciativas empresariais: Coalizão First Movers, que visa tornar as cadeias de abastecimento do setor privado mais verdes até 2030. Inicialmente, terá como foco quatro setores: aviação, transporte marítimo, aço e transporte rodoviário. Juntos, eles representam atualmente pelo menos 20% das emissões globais.

Manifesto da Soja do Reino Unido: Um total de 27 empresas assinaram o compromisso para garantir que os embarques físicos de soja para o país não sejam cultivados em áreas onde árvores foram cortadas ou a vegetação nativa convertida em terras agrícolas após janeiro de 2020.

Boa parte destes anúncios vieram sem metas ou planos de implementação, o que gera dúvidas sobre sua efetividade. Porém eles sinalizam crescente apoio ao enfrentamento da emergência climática por parte de inúmeros países e agentes econômicos.

Um alerta claro ao Brasil foi o destaque para a urgência na redução das emissões de uso da terra e do metano, sendo um dos avanços desta conferência e também um sinal para o país, que tem no desmatamento e na pecuária duas das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa.

 


[Fonte: Publicado originalmente WWF]