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MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A desertificação e os impactos na Caatinga brasileira – Entrevista com o Especialista Israel de Oliveira Junior

Em novembro de 2021, a Iyaleta – Pesquisa, Ciência e Humanidades realizou os “Diálogos Iyaleta | Ambições para e pós COP 26”, um espaço de confluência de pesquisadoras sobre temas relacionados às mudanças climáticas e suas dimensões no Brasil, na Colômbia, na Guiné Bissau e em Cabo Verde. Um dos principais temas debatidos foi sobre “Desertificação, Desigualdades e Descarbonização” no Caatinga Brasileira. 

Os Diálogos Iyaleta ocorreram em formato remoto em sintonia com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26) na cidade de Glasgow – Escócia, no período de 29 de outubro a 05 de novembro de 2021.  

A confluência de pesquisadoras/es tem buscado aprofundar análises para alcance de políticas públicas de combate aos efeitos e impactos das mudanças climáticas – diante das desigualdades raciais, étnicas e de gênero, e como as ações de mitigação e adaptação contribuirão na conservação Caatinga e cuidados com os  povos do semiárido. Para o debate, a Iyaleta convidou o geógrafo, doutor em geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Israel de Oliveira Júnior, para apresentação das pesquisas realizadas  sobre os  fatores da desertificação na Região Semiárida. 

Nessa entrevista exclusiva para o site Amazônia Legal Urbana Análises Socioespaciais de Mudanças Climáticas, o pesquisador explica como a degradação ambiental causada pela desertificação resulta de diversos fatores, como eventos climáticos e a ação humana. Para Israel Oliveira Jr, a desertificação coloca a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, em risco. 

Israel de Oliveira Junior é graduado em geografia e especialista em Dinâmica Territorial e Socioambiental do Espaço Baiano pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). É mestre e doutor em Geografia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente desenvolve pesquisas no campo da desertificação, com análise integrada da paisagem, meio ambiente, sustentabilidade e gestão ambiental, utilizando o recurso de Geotecnologias por meio de geoprocessamento. 

O pesquisador é uma das maiores referências sobre o tema e tem contribuído para conhecimento das condições de vulnerabilidade da população na Bahia, estado que tem 289 municípios nas áreas suscetíveis à desertificação. 

– Desertificação na Caatinga: os Altos Pelados – município de Canudos-BA // Imagem cedida pelo pesquisador

 

Amazônia Legal Urbana: De que forma a desertificação ou degradação ambiental influencia nas atividades humanas? 

Israel Oliveira: A desertificação é uma degradação ambiental intensa e mais perversa das áreas de clima árido e subúmido seco e que no contexto brasileiro engloba grande parte da caatinga. Para explicar essa pergunta é necessário entender duas questões: as causas e as consequências. Primeiramente, as atividades humanas são as causas da desertificação, mas, ao mesmo tempo, ela sofre com as consequências dessa realidade. Ou seja, ela ativa e participa dessa degradação. 

Para analisar as causas, vemos uma série de fatores atrelados a isso, a começar pelo aumento da vulnerabilidade social. A sociedade vê a fonte de vida não sendo reproduzida. Por exemplo, se há uma degradação do solo, e uma ampliação da rigorosidade climática no contexto microclimático, é comum que exaure algumas condições da população produzir as atividades agrícolas e pecuárias, o que gera queda da produção e impacta a economia. Isso fortifica a pobreza no Brasil. Outro fator está vinculado ao período de estiagem ou “seca”, que há uma intensa exploração ambiental. É comum encontrar animais mortos e populações enfrentar transtornos nesses períodos quando longos.

 

ALU: Qual o objetivo de suas pesquisas sobre desertificação na caatinga?

IO: Pretendo discutir as causas e as consequências da desertificação, já que a sociedade também causa a degradação ambiental e, ao mesmo tempo, ela é afetada com a diminuição da produtividade agrícola, o aumento da pobreza e a vulnerabilidade social. Busco entender esse jogo das relações. 

Impactos da seca: escassez de água e dificuldade do desenvolvimento das atividades agropecuárias na Caatinga. // Imagem cedida pelo pesquisador

ALU: De que forma o recurso de geotecnologia contribui para o desenvolvimento de suas pesquisas? 

IO: A ferramenta central que usamos é o recurso de geotecnologia para gerar dados e observar questões atemporais, a partir de análises com imagens de satélites. Busco uma base de referências teóricas tanto no contexto brasileiro de estudos da desertificação através de análises de literatura e a utilização do geoprocessamento e os estudos de campo, pelo qual conseguimos verificar os dados, de forma que amplia o conhecimento e dialoga com a comunidade local. Além do recurso, às atividades de campo permitem dialogar, diretamente, com a sociedade e perceber as causas da degradação, e como muitas pessoas criam alternativas para romper esse processo. 

 

ALU: Em algumas de suas pesquisas foi feito um registro de cidades que mais estão em situações de vulnerabilidade à desertificação na Bahia. Como esse registro foi desenvolvido?

IO: As temáticas das minhas pesquisas visam preencher uma lacuna do estudo da desertificação do estado da Bahia. Temos 289 municípios em áreas de risco. Com isso, amadureço os indicadores importantes para mapear essas áreas, vou a campo conhecer essas localidades e busco dados para mostrar essas problemáticas. No decorrer do período de mestrado fiz alguns estudos tentando identificar os espaços da desertificação da produtividade agrícola. Então, em anos de “seca” a produtividade baixava suficientemente. Percebemos que as políticas públicas ainda são insuficientes nas áreas do semiárido para produzir sustentabilidade. No doutorado também desenvolvi algumas pesquisas e coletei um dado importante: o índice de pobreza hídrica. Ele analisa cinco eixos para demonstrar o quanto há desse índice em localidades da Bahia, por meio de dados que identificam o quanto as populações têm acesso à água, o quanto faz uso da terra, entre outros. Com isso, percebemos que grande parte das áreas suscetíveis à desertificação tem esse índice alto, ou seja, grande parte da população tem problemas relacionados a questões de acesso e da gestão do recurso hídrico.

Raso da Catarina: um dos ecossistemas mais secos do bioma Caatinga – estado da Bahia // Imagem cedida pelo pesquisador

ALU: Os efeitos erosivos decorrentes do desmatamento na caatinga são fenômenos cruciais que interferem, negativamente, nas atividades humanas. Como se explica isso?

IO: Quando se analisa a caatinga, percebe-se que a erosão faz parte do processo natural da caatinga. É comum encontrar erosões tanto em ambientes degradados quanto em ambientes conservados por conta das características do solo e das chuvas, quando são torrenciais. Mas, quando a erosão é intensa, impacta na produtividade agrícola, já que perde a oportunidade de plantar. Por exemplo, existem áreas que o solo é tão intenso, que toda plantação inicia com o uso de tratores, devido ao solo já estar compactado e difícil de realizar as plantações manualmente.

 

ALU: Quais fatores estão associados ao processo de desertificação?

IO: Ao estudar as causas da desertificação, analisamos a força motriz e a pressão. As atividades humanas são um dos principais fatores, mas existe uma fragilidade ambiental decorrentes das próprias questões ambientais da caatinga. A exemplo, o clima demonstra que o semiárido é propício ao processo de desertificação, mas não é o fator primordial, porque isso faz parte da interação da natureza. Já o fator principal são as atividades humanas, por meio das produções agropecuárias, principalmente, as de longo alcance, porque elas conseguem gerar um desequilíbrio ambiental em uma grande área. Então, as principais atividades humanas que estão no meio do processo de desertificação são agricultura, pecuária, e algumas áreas da mineração. E as práticas humanas que estão nesse contexto de degradação são desmatamento, as queimadas, áreas de utilização no meio agrícola, o sobrepastoreio, que é uma quantidade massiva do gado bovino e caprino numa determinada área, isso causa uma pressão na vegetação e no solo, podendo desencadear ou contribuir com o processo de erosão. Em algumas áreas, também, da caatinga tem a irrigação. O estudo de desertificação é amplo e envolve uma série de fatores. A degradação da terra envolve elementos físicos, biológicos e sociais.

 


 

Confira a apresentação do estudo que o pesquisador e doutor em geografia Israel Oliveira realizou durante o evento virtual “Diálogos Iyaleta – para e pós COP 26”, que debateu o tema “Desertificação, Desigualdades e Descarbonização: A Amazônia e a Caatinga Brasileira”:

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