Boa Vista foi a sexta cidade da pesquisa sobre mudanças climáticas e desigualdades – lançada no Caderno Iyaleta Vol. 1
Na última quarta-feira (15), a confluência de pesquisadoras IYALETA – Pesquisa, Ciência e Humanidades lançou a pesquisa “Desigualdades Étnico-Raciais e de Gênero e os Impactos das Mudanças Climáticas no Espaço Urbano de Boa Vista – Roraima”. Na primeira edição do Caderno Iyaleta Vol.01, com a análise sobre as dimensões das mudanças do clima no espaço urbano do município de Boa Vista, capital do estado de Roraima.
O Caderno Iyaleta Vol. 01 está disponível para download no site www.o2z.2ac.mywebsitetransfer.com .
A pesquisa foi apresentada no Webinário “Mudanças Climáticas na Amazônia Legal Urbana”, iniciativa do Projeto Amazonia Legal Urbana – Análises Socioespaciais de Mudanças Climáticas Ano 2, realizado pela IYALETA, com apoio institucional do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e parceria com o Instituto Mídia Ética (IME).
O webinário teve a participação das pesquisadoras Iyaleta as epidemiologistas Andrêa Ferreira e Emanuelle Góes e o geógrafo Diosmar Filho, como líderes da pesquisa apresentaram a estrutura, os dados e as considerações resultante da análise socioespacial dos impactos da mudanças climáticas, em Boa Vista, já impactada por desigualdades profundas decorrentes do ordenamento territorial desigual, com o Plano Diretor Urbano (2006) e sem revisões ou elaboração.
Impactos das Mudanças Climáticas no Ordenamento Urbano Desigual
A pesquisa revela que “as mudanças climáticas impactam as mulheres e seus direitos de forma mais aguda, sobretudo as mulheres pertencentes a grupos racialmente oprimidos. Diante disso, os planos diretores devem contemplar as questões de gênero e raça no sentido de superar essas desigualdades no espaço urbano”. Diante das condições de acesso a infraestrutura e serviço de saúde pelas mulheres Negras e Indígenas, que as colocam em vulnerabilidades pela precarização das condições de moradia e acesso inadequado aos serviços de esgotamento sanitário e o abastecimento de água, devido o maior número de mulheres usarem água procedente de poço/nascente ou outras fontes não tratadas. A pesquisa revela que no espaço urbano de Boa Vista as mulheres Indígena têm menos acesso aos serviços essenciais, seguida das mulheres Negras.
Entre as painelistas convidadas a professora, ativista e sindicalista Antônia Pedrosa, relatou as desigualdades urbanas e os impactos sobre população Negra boa-vistense nos 56 bairros do município. Para professora a pesquisa apresentada evidencia a luta da população negra no dia-a-dia da cidade, reforçando a necessidade de uma reparação histórica para os povos originários e para o povo negro desse país. “Os dados nos mostram como o racismo atua fortemente ainda na nossa sociedade brasileira. Essa pesquisa evidencia em números e dados, o que a gente presencia na prática como moradora de Boa Vista”, afirmou Antônia Pedrosa.
A cientista política Leonildes Nazar, coordenadora da Iniciativa Amazônia Legal do iCS, mediou o webinário e relatou sobre o estudo “eu estava muito curiosa para acompanhar os resultados do estudo, porque Roraima é um Estado de experiências muito particulares da Amazônia, que se coloca como agente-chave no ponto de vista de políticas de mitigação, e por estar num lugar de disputa e muitos impactos socioambientais”, disse Leonildes.
Para painelista Terezinha de Jesus, sanitarista e pesquisadora Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), o resultado da pesquisa é um avanço importante para a população de Boa Vista: “Todos esses dados dos impactos das mudanças climáticas trazidos no estudo são importantes para nós e precisamos valorizar, porque não temos muito acesso. Estudos desse tipo dá para expandirmos e mostrar esses estudos para nossos governantes, que já é um passo importante”, destacou.
A painelista Sinéia Wapichana gestora ambiental e coordenadora do Departamento Gestão Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), relatou sobre a importância do plano diretor urbano para garantia de direitos aos povos Indígenas. “É necessário ter no plano diretor do município de Boa Vista, planos que incluam povos indígenas em todos os sentidos, seja na saúde, ordenamento territorial e toda essa parte de epidemias”. Relatando que “nós do Conselho Indígena de Roraima, temos um laboratório de sistema de informação geográfica e trabalhamos, principalmente, com o mapeamento onde as próprias comunidades nos trazem para a gente um mapeamento metal e, com isso, colocamos nas bases cartográficas e tem esse olhar do todo”, explicou Sineia do Vale.
E a painelista secretária geral do Movimento das Mulheres Indígenas do CIR, Maria Betânia Mota, parabenizou a pesquisa e enfatizou a relevância dessa para ampliação de direitos dos Povos Indígenas no plano diretor urbano “essas informações repassadas a nós e esse momento para entendermos como foi feita a pesquisa. Acredito que o plano diretor é estratégico e participativo, e é importante a participação tanto da população quanto dos povos tradicionais com um todo, porque este tema afeta a todos”, reforçou.
Por fim, as pesquisadoras Iyaleta consideram que “a falta de uma política municipal que ordene um plano diretor integrado com programas ambientais, plano de saneamento e planos de mudanças climáticas em Boa Vista, impactam o financiamento público e privado das ações de adaptação e mitigação, diante da savanização que avança no território e aprofunda as desigualdades étnico-racial e de gênero na população urbana municipal e estadual” (CADERNO IYALETA, 2021, p. 26).
As pesquisas sobre as dimensões das mudanças climáticas pelo Projeto Amazonia Legal Urbana têm como próximas cidades de estudo Cuiabá, Porto Velho e Palmas. Com o objetivo de contribuir com a revisão/elaboração de planos diretor e planos de combate aos impactos das mudanças climáticas nas cidades com ações e programas de adaptação, em face da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Estatuto das Cidades (2001) e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – Agenda 2030 da ONU.
Confira na íntegra do “Webinário Mudanças Climáticas na Amazônia Legal Urbana: Uma análise socioespacial de Boa Vista – Roraima”