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Diálogos Iyaleta discute estratégias para melhoria de vida de populações vulneráveis no continente africano

Com o tema “Países Africanos e Dimensões das Mudanças Climáticas”, a Iyaleta – Pesquisa, Ciência e Humanidades realizou mais um encontro da série “Ambições para e pós COP 26” na segunda-feira (1º de novembro), com a presença do sociólogo de Guiné-Bissau, Miguel de Barros, por transmissão ao vivo através do canal “Amazônia Legal Urbana – Iyaleta”, no Youtube.

A atividade contou com a mediação da pesquisadora Iyaleta e doutora em saúde pública, Andrêa Ferreira e discutiu sobre estratégias de melhoria da condição de vida das populações vulneráveis nos países africanos para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas no continente.

O índice de Vulnerabilidade à Mudança Climática de 2018 aponta que no continente africano está localizado oito das dez cidades mais vulneráveis a choques climáticos. “Há um desajuste no clima e acontece porque existe um modelo de exploração que consegue gerar uma injustiça social, através do ambiente que chega  aos níveis de racismo ambiental”, destacou Miguel de Barros.

De acordo com a pesquisadora Andrêa Ferreira, existe uma estrutura escravagista que torna inacessível às discussões sobre mudanças climáticas para os povos afetados. “Essa estrutura escravagista pautada no racismo ambiental e na pauperização dos povos originários vêm se refletindo e está sempre sendo trazida nesse centro de debate, por isso vemos que a dimensão da humanidade acaba sendo elevada nesses espaços de discussão das mudanças climáticas e são colocadas numa arena onde, muitas vezes, nós não conseguimos acessar. E quando digo ‘nós’, falo de grupos sociais, ativistas, a população que sofre efeitos cotidianos”, disse.

Para o sociólogo Miguel de Barros, existem quatro dimensões de mudanças climáticas para se analisar nos países africanos. A primeira dimensão é a curto-prazo, que rebate um mecanismo de suspensão das dívidas. “O modelo de pagamento do serviço de dívidas é um modelo que faz com que a África continue como quem oferece matérias-primas para alimentar o mercado consumista no ocidente e na China, sem que isso inverta para vantagens competitivas a nível do próprio continente. Isso permitiria a alteração do modelo de produção energética baseado na energia fóssil”, explicou.

A segunda dimensão é a médio-prazo. Ele explica que “é preciso haver uma preservação das zonas costeiras, do trabalho agrícola, a preservação dos patrimônios culturais e foco essencial na questão das mulheres. Seria o elemento fundamental  para garantir a justiça ambiental do continente”. Para explicar a terceira dimensão, o sociólogo defende a importância de uma educação ambiental. “É a partir da educação ambiental que constrói-se processos de educação alimentar, de gênero, cidadania, produção criativa, permitindo que se crie um ecossistema holístico em termos de abordagem sobre uma linha ambiental para o próprio continente africano”.

Já na quarta e última dimensão, Miguel destaca que é importante pensar um modelo econômico mais digno relacionado à energia fóssil existente na África. “Dentro desse modelo econômico com base numa energia fóssil precisamos pensar em um modelo mais harmonizado entre aquilo que são as dimensões de dignidade humana. Dimensões de sustentabilidade, onde possa descolonizar todo esse processo do consumo de produção, que acaba colocando a África, cada vez mais, numa situação de vulnerabilidade”.

Segundo Miguel, ainda faltam representantes indígenas e quilombolas na COP 26 para construir agendas socioambientais com base nas realidades locais. “Alguma liderança indígena está hoje na COP 26? Algum povo quilombola? Estamos a discutir sobre mudanças que devam ocorrer na relação entre povos, sociedades, para um resgate da memória histórica que nos levou a chegar aqui. E é através das comunidades locais, que se pode criar  as agendas de transformação baseadas nas realidades locais”, concluiu.

A série de Diálogos Iyaleta “Ambições para e pós COP 26” continua nos dias 03 e 05 de novembro, sempre às 16h, através do Canal “Amazônia Legal Urbana – Iyaleta”, no YouTube. O grupo Iyaleta recebe especialistas brasileiros e de outros países para apresentar outras perspectivas sobre mudanças climáticas com base na realização da COP 26.

 

Assista na íntegra a transmissão ao vivo do dia 1º de novembro  https://www.youtube.com/channel/UCRivTw1kNxpalQIbwJ3y99A/featured